Foi-se o Pan. Muitos desfalques, algumas decepções, boas surpresas, o adeus de Janeth, a redenção de Marcelinho, uma Arena fantástica, o vexame dos ingressos. Em resumo, é isso. Agora vamos aos destaques individuais e coletivos. Leia e opinie na caixinha de comentários.
Seleção feminina:
- Tasha Humphrey (EUA)
- Micaela (BRA)
- Janeth (BRA)
- Matee Ajavon (EUA)
- Teresa Gabriele (CAN)
Técnica: Dawn Staley (EUA)
Menções honrosas: Adrianinha (BRA), Kelly (BRA), Brisa Silva (MEX) e Marcela Paoletta (ARG).
MVP: Matee Ajavon (EUA) - Fez um bom torneio e uma inacreditável final. Com 27 pontos, meteu bolas de todos os cantos da quadra, botou as americanas nas costas e conquistou o ouro em cima do Brasil.
Surpresa: Estados Unidos (o time mais jovem do Pan levou o ouro)
Decepção: Argentina (conseguiu perder duas vezes para a Colômbia)
Seleção masculina:
- Esteban Batista (URU)
- Danilo Pinnock (PAN)
- Marcelinho Machado (BRA)
- Nicolas Mazzarino (URU)
- Valtinho (BRA)
Técnico: Alberto Espasandin (URU)
Menções honrosas: Murilo (BRA), JP Batista (BRA), Marquinhos (BRA), Cuthbert Vitor (ILH), Jose Juan Barea (POR), Angelo Reyes (POR), DJ White (EUA) e Drew Neitzel (EUA).
MVP: Marcelinho Machado (BRA) - Não foi nem sombra do jogador egoísta que a gente tanto criticava. Chutou quando foi preciso, brilhou nas assistências e liderou o Pan em roubadas. Na final, decidiu a parada com um show de arremessos no primeiro quarto.
Surpresa: Uruguai (deu gosto de ver a equipe celeste em quadra)
Decepção: EUA (perderam as duas primeiras e logo pularam fora)
segunda-feira, 30 de julho de 2007
O pós-Pan
Por Fábio Balassiano
Vi todos os jogos da seleção masculina e estive presente nos dois últimos. É tão complicado não se emocionar com a grandiosidade e a beleza da Arena Olímpica como não se revoltar com a falta de organização na entrada.
Dentro do que pude perceber, a seleção repetiu os mesmos erros de sempre nos primeiros jogos: apesar de contar com pontuação satisfatória de sua dupla titular de pivôs (Murilo e o ótimo JP Batitsta), o time não tem jogadas para eles, e o ataque não conta, sequer, com a participação do duo – após a estréia, Lula Ferreira os definiu como “lixeiros”, explicando que eles atuam na “rebarba”, validando assim o argumento acima. O pouco apreço pelas posses de bola (erros de fundamento), falhas nas coberturas defensivas e algumas rotações escolhidas pelo treinador também saltaram aos olhos (arriscou uma com Huertas, Nezinho, Marquinhos, Marcelinho e Murilo, algo completamente impensável para qualquer competição de alto nível).
Entretanto, e em que pese a péssima apresentação nos segundo e terceiro quartos da partida contra o Uruguai (em um dado instante, a seleção tomou 21-4 dos rivais), o time de Lula jogou bem e mostrou controle emocional no mata-mata, principalmente na partida final contra Porto Rico. Destaco as atuações de Marcelinho, que mostrou evolução na defesa (foi o líder em roubadas no torneio), parou de precipitar chutes de três pontos e ganhou, em sua estada na Lituânia, um par de arremessos de dentro do garrafão (pull-up jumpers). Além disso, valeu o destemor defensivo de Batista, a classe de Valtinho (se ele quisesse evoluir, que armador ainda melhor teríamos...), a explosão de Marquinhos e o fervor quase ensandecido de Marcus.
De todo modo, e por melhor que tenha sido o Pan-Americano para a seleção, para a modalidade e para os torcedores que voltaram a ter contato com o jogo, todos sabemos que o torneio conquistado no Rio só será validado daqui a um mês, em Las Vegas, quando um outro grupo de jogadores tentará, enfim, levar o Brasil de volta às Olimpíadas. Chances, temos. Que a seleção “olímpica” não repita os velhos erros, que a comissão se prepare com correção e, no fim das contas, mostre que os tricampeões fazem parte, de fato, de um ótimo grupo de cerca de 20 jovens jogadores com talento e capacidade para brilhar por longo tempo.
domingo, 29 de julho de 2007
Diretor da NBA confirma: vai ter jogo no Rio
Após a semifinal de sábado, na Arena Olímpica, bati um papo com Vincent Burniske, diretor geral de Televisão Internacional e Mercado da NBA. Ele foi ao ginásio para avaliar as intalações e ficou encantado com o que viu. A entrevista confirma o que a gente já esperava: vem jogo da NBA por aí. Para quem não leu no Globoesporte.com, aí vai a íntegra:
- Os brasileiros estão muito impressionados com a qualidade da Arena Olímpica. O novo ginásio pode fazer o Brasil, enfim, receber um jogo da NBA?
- Tem sido um objetivo da NBA nos últimos anos trazer um jogo para o Brasil, e uma das maiores limitações era o ginásio. Agora, tendo uma arena de primeiro nível, como esta, o horizonte muda completamente. Já temos o interesse dos patrocinadores e dos parceiros internacionais, mas para completar o evento de marketing é preciso haver um evento: um jogo de pré-temporada ou outros amistosos.
- Quando isso vai acontecer?
- O prazo mínimo seria outubro de 2008. Nós trabalhamos bem adiantados, e nesta janela de outubro já temos uma programação.
- O que você viu na Arena?
- Fiz um tour completo. Meus objetivos aqui no Rio são assistir aos Jogos Pan-Americanos, fazer contato com nossos parceiros e conhecer as instalações esportivas. Conheci várias, mas esta é a instalação-chave. Vi o ginásio do ponto de vista do público, da mídia, dos jogadores, e fiquei muito satisfeito ao notar que este pode ser um ginásio para a NBA.
- Desde o início do Pan, vários jogadores escorregaram no garrafão. Para quem está de fora, parece que a tinta não tem muita aderência. Você chegou a notar este ponto?
- Não, eu não posso comentar o aspecto técnico. A NBA está dividida entre as áreas de negócios, minha especialidade, e operações de basquete. Há um padrão para o piso. Se ele for considerado escorregadio, esteja seco ou molhado, vamos ver isso para ter a certeza de que não há risco de lesões.
- A falta de um estacionamento na Arena pode ser um problema?
- Ainda não tive a oportunidade de conferir este pontos. Você sabe quantas vagas são?
- A Arena não tem estacionamento para o público.
- Hum... não posso comentar sobre a parte operacional, porque especialistas virão até aqui. Mas há maneiras diferentes de chegar até a Arena. Então o fato de não haver vagas de estacionamento compatíveis com a capacidade de público não será uma limitação.
- E os pontos positivos? O que o deixou mais impressionado?
- Acima de tudo, esse lugar foi bem concebido. O visual, os ângulos da câmera, as arquibancadas, a estrutura para a mídia e também o que diz respeito aos jogadores. Há pouquíssimos ginásios nas Américas com duas quadras de treino permanentes. A zona mista permite que os jogadores deixem a quadra, falem com a imprensa durante um tempo estipulado e depois passem para a sala de entrevista coletiva. As entradas e saídas de público também são ótimas. O ginásio pode encher e esvaziar rapidamente. São muitos pontos positivos e poucas limitações.
- Um possível amistoso seria necessariamente de um time com jogador brasileiro?
- A idéia é ter sempre um ícone local. Agora que temos a bênção de contar com seis brasileiros na NBA, incluindo Tiago Splitter, que estará no San Antonio Spurs na temporada 2008/09, isso nos dá uma flexibilidade maior e uma grande chance de tornar real.
- É mais fácil haver um jogo de pré-temporada ou um amistoso contra a nossa seleção, como cogitou o presidente da Confederação Brasileira de Basquete?
- Contra a seleção seria mais problemático. Em outubro, quando faremos o jogo, as seleções terão compromissos. Então enfrentar um time local criaria um problema de calendário. A idéia é trazer dois times da NBA, mas há uma outra opção: fazer um período de treinamento. Neste caso, em vez de três ou quatro dias, as equipes poderiam ficar, sete, oito, dez dias. E aproveitaríamos para fazer clínicas com técnicos brasileiros. Há muitas variáveis. Pode ser um jogo aqui no Rio, outro em São Paulo, ou um aqui, outro em Buenos Aires... vamos estudar a melhor maneira.
sexta-feira, 27 de julho de 2007
O mico americano
Com duas derrotas nas duas primeiras partidas, aliadas à vitória da Argentina sobre o Uruguai ontem à noite, os EUA estão fora da competição. Vão disputar de quinto a oitavo. Continuo achando que o problema não é de ego. A questão me parece simples:
O time é horroroso, mal convocado e mal treinado.
A defesa é uma água, os arremessadores são péssimos, os pivôs são covardes, e ninguém se entende em quadra. De bom, até agora, só o armador Drew Neitzel e o ala-pivô DJ White. Roy Hibbert até melhorou no jogo contra o Panamá, mas um cara daquele tamanho (e com toda essa fama) deveria destruir no garrafão.
De resto, continua a bagunça. O Uruguai, que estreou batendo os EUA e venceu três amistosos contra a Argentina na fase de preparação, tombou ontem diante dos hermanos. Salve-se quem puder.
quinta-feira, 26 de julho de 2007
A aposta em dois armadores na quadra
O Brasil atropelou o fraco Canadá, e o jogo desta quinta-feira mostrou que a ausência de Alex, sem querer, pode trazer um benefício à seleção. Lula passou a manter em quadra por mais tempo uma formação com dois armadores, que tem melhorado o jogo coletivo no ataque.
Valtinho tem confirmado o que eu esperava, com um toque de qualidade que nossa armação não tinha há muito tempo. Ao lado dele, Huertas e Nezinho não chegam a empolgar, mas dão um trato melhor à bola do que os alas que costumam ficar na quadra.
Agora, só para deixar claro, é óbvio que o time perde muito mais do que ganha com a ausência de Alex. Tomara que ele volte no Pré-Olímpico.
Fui abduzido, mas já estou de volta
Após dois dias que valeram por vários, cá estou eu de volta. A despedida da Janeth e a estréia da seleção masculina me deixaram afogado em trabalho na terça e na quarta, por isso o Rebote ficou sem atualização. Na última vez em que eu tinha escrito por aqui, Janeth ainda era jogadora da seleção, os americanos metiam medo no torneio masculino e o Brasil era favorito absoluto para arrasar Ilhas Virgens. Bem, como vocês já sabem, muita coisa mudou em 48 horas, então vamos recapitular. Dê uma passeada pelos textos abaixo e comente à vontade nas caixinhas.
Marmanjos em quadra: quem se salva?
Os homens entraram em quadra nesta quarta-feira e, ao fim do dia, a impressão foi a seguinte: todo mundo tem condição de ganhar de todo mundo. Ganhar ou perder, diga-se de passagem. A julgar pela primeira rodada, o nível técnico no Pan vai ficar muito abaixo da crítica.
O Brasil, por exemplo, sofreu para ganhar de Ilhas Virgens.
De bom, a dobradinha de pivôs (JP Batista e Murilo foram bem nos pontos e nos rebotes) e a armação de Valtinho, ainda longe do ideal, mas com oito assistências - vale lembrar que o time do cara acabou de fechar as portas, e esse aspecto psicológico pode mesmo pesar um pouco.
A equipe americana foi uma decepção. Perdeu na estréia para o Uruguai, que talvez tenha feito sua melhor partida nos últimos anos. Se Roy Hibbert é só isso, que tristeza. A defesa dos EUA foi uma mãe para os uruguaios, cheia de buracos. Destaque para Esteban Batista, pivô do Atlanta Hawks (agora com passe livre). É sempre ele que comanda a celeste.
De resto, Porto Rico começou bem, mas o adversário era o fraco Canadá. Argentina e Panamá fizeram um bom jogo, mas os times não chegam a empolgar. Espero que as coisas melhorem a partir desta quinta.
E agora, como ficamos?
A partir de agora, a seleção feminina entra numa encruzilhada. Sem Janeth, Alessandra e Helen, o nível técnico da equipe cai drasticamente. A liderança do processo de renovação está nas mãos de quatro jogadoras: Iziane, Adrianinha, Micaela e Érika. O time titular se completa com mais uma atleta de garrafão, que pode ser Êga, Kelly, Mamá ou alguma outra, não importa.
A renovação vai ser difícil, mas tem um lado positivo. Nas conversas com as jogadoras, é nítido o alívio pela troca de Barbosa por Paulo Bassul. Nesse aspecto, a seleção vai dar um salto de qualidade, não tenham dúvidas. Em termos de resultado, contudo, não dá para cobrar milagres de um elenco que acaba de perder boa parte de sua força.
A dolorosa final contra as americanas
Na última entrevista coletiva de Antonio Carlos Barbosa como técnico da seleção feminina, pasmem, eu concordei com ele em alguma coisa. Em determinado momento, ele disse que as americanas venceram a final do Pan porque acertaram arremessos de tudo quanto é jeito, inclusive caindo no chão, marcadas por três e com o relógio estourando.
Não deixa de ser verdade. O que Mattee Ajavon fez beira o surreal.
Mas a noite iluminada das adversárias não esconde a total falta de preparo tático do Brasil no ataque. Enquanto Adrianinha (foto) bate bola, ninguém se movimenta, ninguém faz bloqueio, ninguém cruza o garrafão.
Se tivéssemos Iziane e, principalmente, Érika, a história poderia ter sido bem diferente. A derrota foi dolorosa, não pelo Pan-Americano em si, que vale muito pouco, mas pela despedida da craque Janeth.
Uma carreira tão especial não merecia um desfecho de prata.
Um papo rápido com Dawn Staley
Uma hora antes da final feminina do Pan, entre Brasil e Estados Unidos, eu e o amigo Marcelo Russio, do Globoesporte.com, batemos um papo com Dawn Staley, técnica da equipe americana e dona de três ouros olímpicos como jogadora. Quem quiser ver um trecho da conversa em vídeo, com imagens de PH Peixoto, pode clicar aqui.
- O que você diria a Janeth no dia do último jogo da carreira dela?
- Janeth sempre atuou como se o jogo fosse o último. A final do Pan é um momento forte emocionalmente. Mas a aposentadoria não é tão ruim como as pessoas pensam. Você consegue preencher a lacuna por não jogar basquete com várias outras coisas. Ela vai passar mais tempo com a família. Na verdade, eu gostaria de ver a Janeth como técnica ou fazendo parte do basquete brasileiro de alguma forma. Ela significa muito para este país e para todos nós no plano internacional.
- Você esteve em São Paulo para disputar o Mundial do ano passado, e agora vem ao Rio. Como avalia a Arena Olímpica, que acabou de ser construída? Os brasileiros estão muito empolgados com o ginásio. O que você achou?
- Em uma escala olímpica, esta arena é provavelmente uma das melhores. Há um sentimento olímpico aqui, as pessoas nas arquibancadas vêm para ver não apenas os jogos do Brasil, mas toda a competição. Isso é muito bom. A construção é bonita, e quando você consegue colocar pessoas nas arquibancadas, isso cria uma atmosfera que te faz querer sediar competições. O Rio tem feito um trabalho fantástico como sede do Pan-Americano. Espero que concorra para trazer uma Olimpíada.
- Você já esteve no Rio antes. Conseguiu conhecer bem a cidade?
- Eu já estive aqui, mas não consigo sair para conhecer os lugares. A competição sempre me toma muito tempo. Fomos à praia durante uma hora. É lindo. O país é muito bonito, um lugar que me faz sentir muito confortável. Sempre que alguém acolhe o esporte, tem o meu apoio.
- Você é uma treinadora do circuito universitário, assim como Jay Wright, que comanda a equipe masculina no Pan, e Mike Krzyzewski, da seleção adulta. A tendência nos Estados Unidos de usar técnicos universitários para comandar as seleções tem a ver com a semelhança das regras entre a NCAA e a Fiba?
- A tendência é usar os melhores técnicos disponíveis. Não jogo mais na WNBA, então tenho os verões livres. Tenho aspiração de ser uma técnica olímpica, então é ótimo acumular experiência numa situação como esta. Joguei nos mais diversos ambientes internacionais, mas como técnica é um pouco diferente. No caso dos homens, eles realmente precisaram mudar o jeito como vinham fazendo as coisas, porque os resultados não estavam vindo, precisavam dar uma sacudida.
- Você acaba de estender seu contrato em seis anos com a Universidade de Temple. Tem planos de treinar uma equipe da WNBA no futuro?
- Meu futuro está no basquete universitário. Gosto de ensinar, gosto de ter segurança no meu trabalho, e a universidade me dá isso. Quero fazer com que nossas jogadoras da WNBA no futuro tenham uma boa compreensão do jogo, para que o produto seja bom.
Pela perpetuação da espécie
Por Fábio Balassiano
Janeth deixou a quadra mancando após o jogo contra Cuba, na semifinal do Pan. Com dores constantes, deslocamento lateral abaixo da crítica e sem explosão física, aquele seria um ótimo momento para se despedir. Seria, mas não no basquete brasileiro – não neste basquete brasileiro. Melhor ala da história da modalidade no feminino, ela teria motivos de sobra para continuar a brilhante carreira até os Jogos Olímpicos de Pequim.
Nenhuma outra atleta tem o poder de decisão de Janeth no fim das partidas. Iziane é tímida e reclusa demais; as outras alas que agora surgem - Karen, Palmira e Micaela - carecem de fundamentos mais apurados e experiência internacional; e, o principal, o começo da era Bassul na seleção principal necessita de alguém com experiência internacional no desafio de chegar novamente às Olimpíadas (no Pré-Olímpico das Américas será praticamente impossível, pois os EUA mandarão a equipe principal para obter a única vaga disponível).
Se por um lado a continuação de Janeth representaria mais uma ajuda à Confederação Brasileira na popularização do esporte (coisa que ela, CBB, não merece de modo algum), por outro fecharia, em alto nível, a carreira mais vencedora de uma atleta na modalidade. Não sou chegado a campanhas, nem a puxa-saquismos, mas a verdade é que não vejo outra atleta (exceção feita a Iziane) capaz de colocar o Brasil na disputa pelas primeiras posições em âmbito internacional.
terça-feira, 24 de julho de 2007
A última tarde da camisa 9
Após a vitória sobre as cubanas na semifinal, com uma bolha no pé e uma toalha sobre os ombros, Janeth passou pela zona mista, gravou entrevista para a TV, participou da coletiva e, depois disso, ficou quase uma hora dando atenção a cerca de 10 jornalistas. E mais: em nenhum momento tirou o sorriso do rosto.
É essa figura que se despede do basquete hoje, às 15h30m.
Continuo achando que ela poderia disputar ao menos o Pré-Olímpico de Valdivia, em setembro. Mas a decisão é pessoal e precisamos respeitá-la. Então nos resta torcer por um desfecho dourado, com o Brasil subindo no degrau mais alto do pódio para festejar o título do Pan.
Após atropelar Cuba, a seleção pega os Estados Unidos na final. São, de fato, as duas melhores equipes da competição. Tem tudo para ser um jogaço. Só acho que, num momento como este, os deuses do basquete não podem permitir que Janeth encerre a carreira com uma derrota para as universitárias americanas. Não vai ser mole, mas dá para ganhar.
Que assim seja.
Fora do Pan, Alex é dúvida no Pré-Olímpico
O jogo-treino contra os Estados Unidos no masculino, nesta segunda-feira, acabou virando uma tragédia. Como a partida foi realizada na Gávea, não tenho idéia do rendimento das equipes, mas agora nem é isso que mais importa. Só sei que, por causa do jogo, Alex Garcia está fora do Pan. O ala-armador bateu a mão esquerda no cotovelo de um americano e, mesmo sentindo dores, continuou jogando - obviamente, um erro gravíssimo. Os exames mostraram uma fratura, Alex foi cortado e agora é dúvida até para o Pré-Olímpico. Sentiram o drama?
segunda-feira, 23 de julho de 2007
Que venham as cubanas...
Após um primeiro quarto ruim, as meninas do Brasil reencontraram seu basquete e bateram as canadenses por 77-63 na noite de domingo. Janeth foi a cestinha de novo, com 20 pontos. O grande destaque do primeiro tempo foi a pivô Kelly (foto), que ficou fora do jogo no terceiro quarto, mas ainda assim terminou como um dos destaques da equipe.
Na semifinal desta segunda-feira, contra as cubanas, a importância de Kelly será redobrada. Aliás, não só dela, como de Êga, Grazi, Mamá e Ísis. O garrafão das nossas rivais impõe respeito, mesmo com a ausência de Yakelin Plutin, que sofreu uma lesão na panturrilha logo na estréia.
Certamente será o maior desafio do Brasil até agora, mas ainda acho que nossas meninas entram em quadra como favoritas. O jogo rola às 15h30m, e os EUA pegam o Canadá às 19h45m na outra semifinal.
Um breve passeio nas quadras de treino
Na tarde de domingo, eu, Roby Porto e Alberto Bial demos um drible de leve na segurança e conseguimos chegar às quadras de treino da Arena Olímpica. São duas, uma ao lado da outra, coisa de primeiro mundo. Estavam treinando as seleções feminina e masculina dos Estados Unidos. Vou dizer uma coisa: os caras são uns armários. Podem não ser brilhantes tecnicamente, mas vão dar trabalho.
Sobre as meninas, todas são super simpáticas. Bati um papo rápido com a Emily Fox - a armadora reserva que foi recordista mundial em empilhar copinhos de plástico (é a moça da foto, clique aqui para ver o vídeo). Ela disse que está com o kit de copos no hotel e prometeu levar para o ginásio na terça-feira. Algo me diz que vai ser divertido...
A farra dos cambistas
Fui à bilheteria comprar um ingresso para o meu pai, e a mocinha me disse que não há mais entradas para os jogos femininos do Brasil. Um absurdo. O público na arena é bom, mas é possível ver muitos lugares vazios nas arquibancadas. Ou seja, o Pan-Americano fracassou redondamente na missão de combater os cambistas. Vexame.
domingo, 22 de julho de 2007
Brasil x EUA no masculino: só amanhã
Mudança de planos. Na verdade, o jogo-treino entre as seleções masculinas de Brasil e Estados Unidos não será hoje, e sim amanhã (segunda-feira). Daqui a pouco, o time de Lula vem ao ginásio, mas apenas para treinar na quadra secundária. Já estou por aqui, ouvindo Adriana Calcanhoto, Maria Rita & afins nos alto-falantes.
E o troféu de maior vexame vai para...
... o México, que levou uma surra da Jamaica? Ou para a Argentina, que conseguiu a proeza de perder para a Colômbia? Vou te contar, hein! Tirando Brasil, Cuba e EUA, só tem baba no torneio feminino...
Hoje tem Brasil x EUA. No masculino!
As seleções masculinas de Brasil e Estados Unidos fazem um jogo-treino hoje, a partir das 18h, na Arena Olímpica. Vai ser no intervalo entre a segunda e a terceira partida do torneio feminino. Não haverá público no ginásio, mas eu vou estar lá e, mais tarde, conto para vocês como foi.
Reforço de última hora: Paulão no Pan
Boa notícia para a seleção brasileira: Paulão vai jogar o Pan. Destaque absoluto do Mundial sub-19, na Sérvia, o pivô foi convocado por Lula para substituir Rafael Hettsheimeir, que sofreu uma grave torção no tornozelo esquerdo. O garoto ainda precisa ser lapidado, claro, mas chega para reforçar um garrafão frágil - sem Nenê, Splitter, Varejão e Baby. Tomara que repita no Rio a precisão dos rebotes mostrada na Sérvia. Vamos ficar de olho.
sábado, 21 de julho de 2007
Micaela, Adrianinha, Ísis & Cia
O Brasil voltou a cometer erros, Janeth caiu um pouco de produção, mas a vitória contra o México saiu sem nenhum sacrifício. Barbosa mexeu mais no time (só Grazi ficou de fora) e eu gostei especialmente da pegada das reservas no último quarto.
Micaela, não tenho dúvidas, será uma grande jogadora em muito breve. Na saída da entrevista coletiva, quando perguntei sobre o Canadá, ela logo tascou: "Vamos passar por cima dessas branquelas". A frase não deixa de ser um bom sinal para uma atleta marcada pela timidez.
Quando Ísis entrou, a 7:51 do fim, o ginásio veio abaixo.
A pivô reserva, chamada de "Xuxa" pela torcida, fez dois pontos e deu dois tocos, para o delírio do público na Arena Olímpica.
Só para registrar, Adrianinha também comeu a bola, principalmente no primeiro tempo. Com um estilo bem diferente do que víamos com Helen, a nova dona da posição 1 impõe a velocidade o tempo inteiro.
No domingo, contra o Canadá, a expectativa é de um jogo um pouco mais difícil. Mas dá para ganhar mole. Vamos em frente.
Largada com vitória. Mas e o garrafão?
E o Brasil estreou. Contra a fraca Jamaica, a vitória por 81-69 não chegou a empolgar, mas serviu para quebrar o gelo da estréia, graças aos 28 pontos de Janeth. Com a despedida de Alessandra e o desfalque de Érika, a equipe tem uma clara - e séria - deficiência no garrafão. Kelly e Êga são boas jogadoras e têm raça de sobra, mas não mostram a mesma combinação de força e agilidade.
O próprio Barbosa admitiu que o principal erro do Brasil na sexta-feira foi a pífia performance nos rebotes defensivos - foram 24 pontos de segunda chance para as jamaicanas. Só não explicou por que não lançou à quadra, em nenhum momento, a pivô Ísis, de 2,02m, xodó da torcida e gente finíssima - bati um papo com ela depois do jogo.
Aliás, nosso treinador até tentou explicar: "Ela ainda é uma jogadora muito verde, não dá para colocá-la num jogo desta intensidade", afirmou.
Como assim?
Se ela não pode entrar contra a Jamaica, vai entrar contra quem?
Mesmo sem ter colocado o pé em quadra, Ísis se tornou o grande personagem da noite. A torcida a apelidou de "Xuxa" (pelos cabelos descoloridos) e pediu sua entrada o tempo inteiro. Talvez por saber que a menina enterra, o público levou inúmeros cartazes e chegou a cantar "Ah, a Xuxa é melhor que o Oscar". Deboche delicioso.
Mas Barbosa não se sensibilizou com os apelos. Chegou a dizer, na coletiva, frases do tipo "Isso não me comove. Fica lá no meu lugar treinando o time que eu vou para a torcida fazer festa".
Não acho que Ísis deveria ter entrado por causa dos cartazes. E sim pela nítida incapacidade do nosso time de mostrar força no garrafão contra um rival apagado. Espero que a coisa evolua a partir deste sábado.
sexta-feira, 20 de julho de 2007
No fim das contas, um bom jogo
O Canadá sofreu para bater o México, na prorrogação. As mexicanas, inferiores tecnicamente, ficaram muito perto de um feito impressionante. Mas a armadora Teresa Gabriele partiu endiabrada, cruzou a quadra inteira e fez uma bandeja a três segundos do fim, para empatar a partida. No período extra, o Canadá finalmente se encontrou e venceu por 74-63. Agora são duas horas de intervalo até Argentina x Cuba. Haja paciência para encarar os testes de som no ginásio vazio, com dois sujeitos cantando hip hop em volume máximo.
Só anotando...
Tricampeã olímpica e bi mundial, Dawn Staley acompanha atentamente, da arquibancada, a partida entre Canadá e México. Ao lado dos assistentes Bill Gibbons e Kathy Delaney-Smith, a técnica dos Estados Unidos faz anotações sobre as possíveis adversárias na segunda fase.
Apesar do show das americanas na estréia, ainda acredito que o Brasil seria o favorito num confronto direto. As moças dos States são atléticas, correm um bocado e defendem bem, mas nosso time tem experiência suficiente para vencer. Quero ver Cuba, logo mais, a princípio a maior ameaça para o ouro do Brasil. A conferir.
Apesar do show das americanas na estréia, ainda acredito que o Brasil seria o favorito num confronto direto. As moças dos States são atléticas, correm um bocado e defendem bem, mas nosso time tem experiência suficiente para vencer. Quero ver Cuba, logo mais, a princípio a maior ameaça para o ouro do Brasil. A conferir.
Devagar com o andor
Por Fábio Balassiano
Enquanto o Pan começa por aqui, o Mundial Sub-19 masculino vai chegando aos seus momentos finais na Sérvia. Difícil manter a serenidade quando vemos uma safra de garotos com a categoria de Betinho, a raça de Cauê e o fervor ácido de Paulão. Principalmente depois da vitória desta sexta-feira, por 73-72, contra a Austrália. O primeiro foi o cestinha, com 23 pontos (além da bola decisiva); o segundo foi o responsável pela redução do potencial ofensivo do armador rival Pat Mills (13 pontos na primeira etapa, apenas seis na final); e o último foi o maior reboteiro (14, sendo seis no ataque).
Entretanto, o mesmo olhar que enxerga as virtudes é capaz de avistar os equívocos - não da atuação brasileira em si, mas dos erros de formação do basquete nacional. Betinho, por exemplo, cometeu oito desperdícios de bola na partida; Paulão cometeu duas faltas sem o menor propósito, Cauê exagera nos arremessos desequilibrados de três pontos (hoje foram cinco conversões em 20 tentativas) e os conceitos técnico-táticos dos armadores estão completamente obsoletos (culpa da carga de treinamentos de Neto). Em resumo: tudo o que acontece nas seleções principais, e acabam por nos eliminar das competições de alto nível.
De todo modo, amanhã a seleção enfrenta a Sérvia (de quem perdeu na segunda fase) por vaga na final. Ao contrário do time feminino Sub-21, que obteve apenas uma vitória em seu Mundial (terminou em 8º), o trio Betinho, Paulão e Cauê pode levar o Brasil a uma posição mais que honrosa neste fim de semana. Mas que os erros não sejam ocultados por eventuais brilhos que precisam ser lapidados...
Mais fácil, impossível
Com uma rotação intensa durante toda a partida, a seleção americana destruiu a Colômbia na abertura do Pan: 95-41. No início do jogo, Natasha Humphrey se destacou. Depois, outras jogadoras entraram no ritmo, como Matee Ajavon, Candice Wiggins e Marissa Coleman. Show das americanas na estréia. Pegaram a única baba do grupo e atropelaram.
Massacre ainda maior!
Com bela cesta de Mattee Ajavon no estouro do cronômetro, a seleção americana fecha o primeiro tempo em impressionantes 63 a 23.
Sim, amigos, quarentinha de vantagem!
Sim, amigos, quarentinha de vantagem!
Massacre
As americanas abrem 24 a 7 e passeiam em quadra. A ala-pivô Natasha Humphrey faz o que quer em quadra. E, cá entre nós, a defesa da Colômbia é uma água.
Direto da quadra!
Salve, amigos. Já estou aqui, a 10 metros da quadra na Arena Olímpica, vendo americanas e colombianas batendo bola. O ginásio, realmente, impressiona. Altíssimo nível. Daqui a pouco começa o basquete no Pan!
Com elas, não tem conversa
Por Gustavo de Oliveira
Assim como a equipe masculina, as meninas americanas também vieram para o Pan para quebrar um tabu de 20 anos sem o lugar mais alto do pódio. A diferença é que, com elas, o desafio é levado mais a sério pelos dirigentes.
Apesar de não poder contar com Candace Parker, a mais jovem jogadora a participar do time feminino principal em mundiais e campeã do torneio da NCAA de 2007, os EUA têm um núcleo muito forte. A maioria das atletas do elenco tem passagens pelas seleções de base sub-18, 19 e 20, com medalhas de ouro em mundiais.
São elas: Erlana Larkins (ala-pivô que perdeu nas semifinais para Tennesse de Candace), a armadora vice-campeã de 2007 Matee Ajavon, a ala Chardé Houston (melhor defensora da NCAA deste ano), a armadora campeã em 2006 Marissa Coleman, a pivô campeã em 2007 Nicky Anosike, outra pivô, Jayne Appel, que bateu o recorde de tocos de Stanford, anotando 61 raquetadas no ano de caloura, e a melhor armadora do mundial sub-19, Candice Wiggins (a mocinha da foto).
Quem comanda essas meninas é ninguém menos do que Dawn Staley, ex-armadora tricampeã olímpica e campeã da WNBA, hoje técnica da Universidade de Temple. Staley, aliás, é a treinadora que chegou mais rapidamente à 100ª vitória da conferência Atlantic 10.
Resta saber o quanto de gás ainda resta em Janeth & Cia para correr contra essa meninada.
quinta-feira, 19 de julho de 2007
Respeitem os ianques
Por Gustavo de Oliveira
Está certo que, para quem antes nem considerava participar dos Jogos Pan-Americanos, os Estados Unidos conseguiram formar em muito pouco tempo uma equipe no mínimo decente. Sim, trata-se de atletas universitários, e a grande maioria não chega nem perto do primeiro escalão. Não esperem muito talento, capaz de dar show. É um grupo disciplinado taticamente e muito bem armado pelo técnico copeiro de Villanova, Jay Wright, que tem excelentes defensores - nenhum atleta abaixo da média neste quesito.
Para derrubar o tabu de 24 anos na fila do ouro no Pan, Wright terá no garrafão alguma combinação com Roy Hibbert (o estilo lembra muito Robert Parish), Joey Dorsey (melhor pivô da conferência USA) e DJ White (segundo melhor pivô da Big Ten, perdendo apenas para Greg Oden). O treinador terá à disposição bons arremessadores: Josh Carter (líder da NCAA com 50% de aproveitamento nos chutes de três pontos), Shan Foster (o homem da foto) e Eric Maynor - das surpreendentes Vanderbilt e VCU. Fechando a ala, o versátil James Gist, excelente infiltrador que também joga bem de costas para a cesta.
Mas o ponto forte - e pouco valorizado - desse elenco realmente é a armação: Drew Neitzel (melhor armador da Big Ten nos últimos dois anos), Scottie Reynolds (melhor armador calouro da NCAA de 2007), Derrick Low (melhor da Pac 10 e McDonalds All American de 2004) e Wayne Ellington (melhor da ACC de 2007 e McDonalds All American de 2006).
A equipe que vai brigar por medalha, sim, mas qual? Bom, essa eu deixo para você decidir aí na caixa de comentários.
quarta-feira, 18 de julho de 2007
O fator Paulão
Por Fábio Balassiano
A seleção brasileira masculina que se prepara para os Jogos Pan-Americanos tem em sua lista de convocados os seguintes pivôs: Murilo, Guilherme Teichmann, Caio Torres, Rafael e João Paulo Batista. O primeiro e o segundo não possuem físico e força mental para sustentar seus jogos de finesse. Os dois do meio, que atuam na Europa, surgiram bem no cenário nacional, mas jamais despontaram (apesar disso, ainda confio em Rafael). Tirando Batista, nenhum dos outros empolga nem o mais fanático torcedor e desperta o olhar mais aguçado da crítica.
É aí que Lula Ferreira, o treinador, se equivoca: será que o menino Paulão, que comanda a seleção sub-19 no Mundial da Sérvia com médias de 22 pontos e 14.8 rebotes (líder nas duas categorias), não teria vaga neste elenco, nem que fosse para ser apresentado ao público nacional e ganhar experiência? Apesar da péssima carga tática do técnico Neto, o atleta do Clinicas Rincon Axarquia (Espanha) garantiu praticamente sozinho a vaga da seleção nas quartas-de-final do torneio (Betinho, de Limeira, também merece uma boa citação aqui).
É claro que Paulão precisa de um forte trabalho específico de fundamento (seu jogo de pernas ainda carece de velocidade, a famosa “finta”, citada por Wlamir aqui embaixo, praticamente inexiste em seu repertório, e um arremesso mais confiável de longa distância faz-se necessário para o jogo em alto nível). Por outro lado, que outra revelação poderia aprender e se divertir mais nos Jogos do Rio de Janeiro, já que a vitória está praticamente garantida?
Hora de ir para a Vila
As meninas da seleção devem chegar à Vila Pan-Americana às 16h desta quarta-feira. A estréia está marcada para as 22h de sexta, na Arena Multiuso da Barra, contra a Jamaica. Os outros dois adversários da primeira fase (México e Canadá) também são galinhas mortas. Acredito que apenas Cuba, Estados Unidos e Argentina podem nos inspirar algum receio. Ainda assim, Janeth & Cia têm tudo para embolsar o ouro.
terça-feira, 17 de julho de 2007
Brasil x Brasil
Pela enquete ali ao lado, Estados Unidos e Argentina são apontados como maiores rivais do Brasil no torneio masculino. Às vésperas do Pan, tenho a impressão de que, se formos batidos por qualquer um deles, será um mico. Os americanos formaram um elenco universitário que sequer inclui os astros da NCAA. E os hermanos, com um time B (ou C?), acabam de perder três amistosos seguidos para o Uruguai - o mesmo Uruguai que a nossa seleção atropelou sem muito esforço há duas semanas. Como bem disse o sbub na caixinha de comentários, o maior rival do Brasil será mesmo o Brasil.
segunda-feira, 16 de julho de 2007
Alemãozinho, 70
A partir de agora, até o fim do Pré-Olímpico, o Rebote fica de olho na seleção brasileira. Mas antes de entrar de cabeça no Pan, uma homenagem especial. Wlamir Marques, um dos nossos maiores jogadores de basquete em todos os tempos, completa hoje 70 anos. Fábio Balassiano bateu um papo com ele. Fiquem com o texto. E parabéns ao mestre.
Por Fábio Balassiano
Exatamente hoje, dia 16 de julho, o futebol brasileiro lembra 57 anos da perda da Copa de 50. Nesta mesma data, em 1954, uma das maiores estrelas do basquete fez seu primeiro treino com a camisa da seleção nacional. Foi também num 16 de julho, em 1937, que nasceu um dos maiores jogadores da modalidade. Wlamir Marques (também conhecido como Diabo Loiro), que comemora o 70° aniversário ao lado da família em São Paulo, não nasceu numa data comum e vazia de coincidências. Tampouco foi um jogador dentro dos padrões aceitáveis.
Com 1,85m e uma velocidade assustadora para o que se via em território brazuca no começo da década de 50, Wlamir começou a despontar no time de sua cidade natal, São Vicente. Logo foi levado para Piracicaba, onde jogou pelo XV, antes de se transferir para o Corinthians. Foi pela seleção, porém, que, ao lado de uma geração fantástica (“sempre foi muito fácil jogar ao lado de Amaury, Rosa Branca, Ubiratan, Sucar, Paulista...”), ganhou um apelido de Alemãozinho do lendário técnico Kanela, além de inúmeras medalhas.
"Kanela foi um mito. Se não um inovador na parte tática, soube disciplinar uma geração de atletas novos e comandá-los com muita intensidade - tanto que brigava com o Algodão, seu atleta no Flamengo, a cada cinco minutos. A única coisa que não ganhei pela seleção foi reconhecimento. Aliás, se estes jovens que agora vestem a camisa amarela esperam isso, eles não vão ter. De todo modo, o que sempre quis foi jogar basquete, e isso eu consegui", reflete Wlamir, de sua casa em São Paulo, lembrando que mesmo com inúmeros problemas (ele chegou a fugir da concentração em Volta Redonda para ver o nascimento do primeiro filho às vésperas do Mundial-66), era um dos “queridinhos” de Kanela, que, após o primeiro treino com a seleção, encomendou um bolo e soprou velas com o pupilo.
Currículo invejável e derrotas dolorosas
Cestinha nos dois mundiais vencidos pela seleção brasileira (em 1959, no Chile, com 14.9 pontos, e em 1963, no Rio de Janeiro, com 18) e vice-campeão outras duas vezes, Wlamir ainda obteve um quarto lugar, um sexto (sua pior colocação pela seleção, em 1956, na Austrália) e dois bronzes em Olimpíadas (Roma-60, e Tóquio-64). As duas derrotas que impediram a medalha de prata não saem da cabeça do jogador, descrito pelo sisudo Kanela como “o mais genial dos alas do basquete mundial”.
"Apesar de termos sido campeões e vice mundiais em casa, perder duas vezes para a União Soviética nas semifinais dos Jogos Olímpicos foi duro demais. Sabíamos que derrotar os Estados Unidos seria muito difícil, mas, principalmente em Tóquio, fomos derrotados por um descuido da arbitragem. O Amaury me passou, estava livre, e o juiz marcou alguma coisa que até hoje não entendo", ressente-se, lembrando do time americano de 1960 treinado por Pete Newell, que contava com Jerry Lucas, Oscar Robertson e Jerry West (“um dos meus ídolos, com quem aprendi a fintar adversários”).
Momento glorioso em terreno doméstico
Contrariando o roteiro, a melhor partida da carreira de Wlamir Marques, que chegou a ser indicado ao Hall da Fama de Springfield em 1991 (“tinha que buscar muitos documentos, rapaz, e acabei desistindo disso”), veio com a camisa do Corinthians, em 1964. Bicampeão europeu e em turnê de amistosos pela América do Suil, o Real Madrid veio ao Parque São Jorge enfrentar o time de Amaury e Wlamir.
"Pouca gente sabe, mas acordei naquele dia com uma infecção no olho esquerdo. Minha esposa chamou o médico do clube, que me deu um remédio para poder jogar. Consegui, mas com um pouco de dificuldade. Marquei 51 pontos (31 no primeiro e 20 no segundo) e vencemos por 118-109. Foi a melhor partida da minha vida, principalmente pelo meu problema de visão", lembra o craque, que venceu oito títulos paulistas no Corinthians entre 1964 e 1971 e na época foi o maior ídolo da torcida. De acordo com o jornalista Juca Kfouri, “nos tempos em que o futebol do Corinthians não ganhava nada, Wlamir era tudo”.
Como coincidência pouca é bobagem, é também neste ano que Wlamir e sua maior companheira (Cecília) completam 50 anos de casamento. Foi também em 16 de julho que nasceu outro imortal do basquete brasileiro, o ala Rosa Branca. Crítico da maneira de atuar da seleção brasileira (“falta identidade, carga tática, mais personalidade e menos submissão por parte de técnicos e jogadores”), Wlamir Marques merecia homenagens por parte do basquete brasileiro - para ser justo, foi homenageado pelo COB na cerimônia de abertura do Pan-Americano. Por outro lado, cabe às novas gerações reverenciar aquele que, por 18 anos, defendeu a camisa do país e teve média de 16 pontos por jogo. Um pouco baixa essa pontuação, Wlamir?
"As duas únicas coisas que a minha geração não teve foram foto colorida e linha de três pontos. Se existisse, eu teria uma média bem superior. Acho que a distância é bem curta, aliás", diverte-se o Alemãozinho.
SELEÇÃO ESTRANGEIRA - Jerry Lucas, Oscar Robertson, Bill Russel (“quando estava no garrafão, a gente só conseguia infiltração quando ele estava distraído”), Jerry West e Michael Jordan. É este o quinteto de gringos escalados por Wlamir como os melhores de todos os tempos.
SELEÇÃO NACIONAL - Amaury, Oscar, Marquinhos, Rosa Branca e Ubiratan foram selecionados como os melhores brasileiros.
ALEMÃO NACIONAL - “Sempre gostei de velocidade e atrevimento. Foi a partir de mim e do Amaury que o basquete brasileiro começou a conhecer as enterradas e os lances mais plásticos. Quem hoje em dia assiste a Kobe Bryant e Allen Iverson pode ter uma idéia de como eu era em quadra”.
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